terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Nos Últimos Dias

 (Comentário Êxodo 7)

"Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências, que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles" (2 Tm 3:1-9).

Ora, a natureza desta resistência à verdade é particularmente solene. A oposição que Janes e Jambres fizeram a Moisés consistiu simplesmente em imitar, até onde lhes foi possível, tudo aquilo que ele fazia. Não vemos que eles atribuíssem a um poder enganador ou mau os sinais que ele fazia, mas antes que procuraram neutralizar os seus efeitos sobre a consciência fazendo eles as mesmas coisas. O que Moisés fazia, também eles o podiam fazer, de modo que, afinal não havia grande diferença. Um era tão bom como os outros. Um milagre. Se Moisés fazia milagres para tirar o povo do Egito, eles podiam fazer milagres para os obrigarem a ficar no país. Onde estava, pois, a diferença?

De tudo isto aprendemos a verdade solene que a resistência mais diabólica ao testemunho de Deus, no mundo, vem daqueles que, embora imitem os efeitos da verdade, têm apenas a "aparência de piedade" e "negam a eficácia dela" (2 Tm 3:5). As pessoas desta condição podem fazer as mesmas coisas, adotar os mesmos costumes e o mesmo ritual, empregar a mesma linguagem e professar as mesmas opiniões dos outros. Se o cristão verdadeiro, constrangido pelo amor de Cristo, dá de comer aos que têm fome, dá vestuário aos nus, visita os enfermos, espalha as Escrituras, distribui folhetos, contribui para a divulgação do evangelho, faz oração, canta hinos espirituais, prega o evangelho, o formalista pode fazer todas estas coisas; e isto, note-se, é o caráter especial da resistência oposta à verdade "nos últimos tempos" — é o espírito de Janes e Jambres.

Quão necessário é compreendermos esta verdade! Quão importante é recordar que, assim "como Janes e Jambres resistiram a Moisés", assim também esses "amantes de si mesmos", do mundo e dos prazeres "resistem à verdade"! Não querem viver sem "aparência de piedade", mas, enquanto adotam a "forma", porque é hábito, detestam "a eficácia" dela, porque essa significa a renúncia própria. "A eficácia da piedade" implica o reconhecimento dos direitos de Deus, o estabelecimento do Seu reino no coração, e, por consequência a Sua manifestação na vida e no caráter; porém o formalista nada sabe disto. "A eficácia" da piedade nunca poderá estar de acordo com nenhum destes caracteres horrendos descritos na passagem acima reproduzida; porém "a aparência", encobrindo-os, permite-lhes viverem sem terem de se submeter, e isto agrada ao formalista. Ele não gosta de dominar as suas tentações, de interromper os seus prazeres, de refrear as suas paixões, de pôr em regra os seus afetos, de que o seu coração seja purificado. Somente precisa de bastante religião para poder tirar o melhor partido da vida presente e do mundo futuro. Desconhece o que significa abandonar o mundo que passa, por ter achado "o mundo vindouro".

Considerando as diversas formas de oposição de Satanás à verdade de Deus, vemos que o seu método tem sido sempre, em primeiro lugar, pela violência; e, depois, se este método falha, corromper por meio de imitação. Por isso, procurou em primeiro lugar matar Moisés (capítulo 2:15), e tendo falhado em realizar o seu propósito, procurou imitar as suas obras.

O mesmo aconteceu com a verdade confiada à Igreja de Deus. Os primeiros esforços de Satanás manifestaram-se em ligação com a ira dos principais sacerdotes e anciãos do povo por meio do tribunal, o cárcere e a espada. Porém, na passagem que reproduzimos da 2ª epístola a Timóteo não se faz menção de tais processos. A violência aberta foi substituída por um meio mais astuto e perigoso de uma profissão vazia, ineficaz e a imitação. O inimigo, em vez de se apresentar coma espada da perseguição na mão, passeia com o manto da profissão sobre os ombros, professando e imitando aquilo que em outro tempo combateu e perseguiu; e, por este meio consegue vantagens assombrosas no tempo presente. As formas horríveis que o pecado moral tem revestido, e que de século para século têm manchado as páginas da história da humanidade, longe de se encontrarem apenas naqueles lugares onde naturalmente poderiam buscar-se, nos antros e cavernas das trevas humanas, acham-se cuidadosamente ocultas debaixo das pregas do manto de uma profissão fria, impotente e sem influência, e esta é uma das obras-primas de Satanás.

É natural que o homem, como ser caído e corrompido, seja egoísta, cobiçoso, vaidoso, altivo; mas que seja tudo isto sob a capa formosa da "aparência de piedade" denota a energia especial de Satanás na sua resistência à verdade "nos últimos dias".

É natural que o homem manifeste abertamente esses vícios repugnantes — a concupiscência e paixões—, que são o resultado forçoso do seu afastamento da origem de santidade infinita e pureza, porque o homem será sempre o que ele é até o fim da sua história. Por outra parte, quando se vê o nome santo do Senhor Jesus Cristo associado com a perversidade e a maldade implacável do homem; quando se veem os princípios santos ligados com práticas ímpias; quando se veem todos os característicos da corrupção dos gentios, mencionados no primeiro capítulo da epístola aos Romanos, ligados com a "aparência de piedade", então, de verdade, pode dizer-se, eis aqui o caráter horrível dos "últimos dias", a resistência de "janes e jambres".
 
C. H. Mackintosh.

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